Desde que tive a confirmação da noticia, na manhã de hoje, estou tentando escrever e não consigo. Rendo-me uma vez mais à emoção do momento e deixo fluir sobre o teclado algumas lembranças, que tentarei dar forma de texto, de homenagem, de amor.

- Tumááááátii!!

O grito inesquecível vem em primeiro lugar na mente. Era assim que o tio chamava o Tomate, um dos meninos do orfanato que foi morar na sua casa, quando o orfanato fechou. Não era um grito para uma bronca ou repreensão, era o “jeitão” do Coronel.

– Que foi Capitão?

E ele com tranqüilidade acrescentava:

- Você já comeu? Não vá sair de novo sem comer!

O Coronel foi uma figura marcante na vida de todos que tiveram a oportunidade de conviver com ele mais proximamente. Muruaicys, meninos do orfanato, pessoal da Casa Grande, do salão de costura, e uma infinidade de agregados que sempre estavam compartindo sua mesa farta, de uma comida simples e emanada pelo seu grande amor em sempre compartilhar.

Apesar dos horários estranhos do almoço e jantar, não tenho lembrança daquela mesa vazia no momento da refeição. Sempre com a família reunida e mais alguns agregados acolhidos.

Falar do Coronel inevitavelmente leva a falar de comida... Sempre perfeccionista na supervisão, ou execução, dos jantares e almoços para as reuniões e eventos que participava. Lembro de uma bronca que ganhei por estar mexendo o estrogonofe no sentido errado:

- Rudriiiigo! Não é assim! É deste jeito ó!? Sempre para este lado!

Nunca soube se estava me sacaneado ou tinha algum motivo... Como perguntar?

Queria sempre tudo certinho, direitinho. E ensinava com suas atitudes a organização necessária para melhorar nossas vidas.

Lembro das primeiras grandes festas na entrada do Vale, onde sua técnica orientava cada vaga do estacionamento. Era divertido e construtivo observá-lo em ação! Há pouco eu e minha ninfa ríamos com as lembranças que ele nos deixou. Sempre coisas boas e produtivas. Nunca vi ou ouvi o coronel usando seu comando para destruir ou para gerar vibrações contra este ou aquele.

Ele teve uma Veraneio (uma caminhonete Chevolet 74 placa lz-7777) da qual cuidava com o maior zelo. Supervisionava todo tipo de manutenção e limpeza a ser feito. Mas demonstrava seu desprendimento quando era necessário, cedendo o carro para todos os tipos de “operações” organizadas por Tia Lúcia (percorrer os acidentados caminhos que um dia ainda seria ruas do “Pacheco”, por exemplo, atrás de pessoas listadas para a cesta de fim de ano). Quando minha filhinha de um aninho sofreu um acidente doméstico, deixava as chaves a disposição para o que eu precisasse e a hora que fosse.

Remexendo a caixa das lembranças da memória, posso afirmar que ele tem uma marca fundamental nos caminhos de minha vida. Na época da primeira reforma da Casa de Tia Neiva, quando os painéis começavam a descascar, a madeira empenar; após muitas madrugadas de trabalho para reformar os painéis, re-selecionar as fotos, classificar, datar, pintar, criar uma forma de proteger o máximo possível aquele acervo, que hoje seria considerado totalmente rudimentar, ainda tinha legendas “batidas a máquina” (datilografadas) e muitas faltavam dados ou inexistiam. Eu tinha um pequeno conhecimento operacional e comecei a digitar as legendas em um computador emprestado, conseguido pela Alessandra, esposa do Tony. Porém o computador precisou ser devolvido e esta parte do trabalho tinha apenas começado. Ele virou para mim e perguntou:

- Você gosta disso, por que não compra um?

Respondi que não tinha crédito e que a vista custava quase 2.500 reais. Ele não falou mais nada. No dia seguinte pediu ao Tomate para me buscar em casa pela manhã, me levou a uma boa loja, e disse para fazer o orçamento. Depois de olhar perguntou:

- Quanto você agüenta pagar por mês?

Respondi e ele mandou fechar o negócio. Assim, sem muita conversa. Não precisava! Ele observava com calma as atitudes de cada um, e sabia até onde podia confiar ou se comprometer com a pessoa. Aquele trabalho foi completado, e aquele primeiro computador garantiu o sustendo da família por muito tempo. Durou até a chega da internet e a necessidade de máquinas mais potentes. Dessa forma, e com essa atitude, e auxiliou muito mais do que se poderia imaginar, a minha vida.

Em um primeiro contato, todos consideravam o tio muito sério, fechado e os que “deviam alguma coisa” sentiam um medo natural. Com a convivência, esta impressão se revelava incorreta. O Coronel tinha muito bom humor, e gostava de conversar com pessoas inteligentes. Quantas vezes ficávamos rindo sozinhos no escritório, pela manhã, esperando a Tia Lucia despertar. Passar ali pela manhã era esquecer o dia até a hora do almoço. Valia à pena sacrificar outros compromissos para ouvi-lo falar assim, longe de todos, distante da impressão de “chefe” que lhe era marcante.

Seu exemplo familiar também tenho que recordar! Do “vamu, vamu, vamu” que repetia para que as coisas andassem mais rápido, à necessidade de reunir a família para as refeições, muitas adotei como minhas atitudes pessoais. Recordo o carinho especial com que recebia o Valério nas poucas oportunidades que podia visitar a família, seu empenho na construção da casa do Tony, cuidando de cada detalhe de aproveitamento do espaço e acabamentos. Sua resignação em atender sempre o que lhe pediam, argumentando suas opiniões, mas nunca se negando a auxiliar em qualquer projeto. Ao decidir participar e fazer, lá estava procurando executar, ou fazer que executassem da melhor forma.

O Mestre Albuquerque, Adjunto de Apoio das Muruaicys era sempre esperado com expectativas nas reuniões de Falange. Sua palavra amiga, seus ensinamentos profícuos e até mesmo seus alertas graves a conduta doutrinária, sempre tinham o cunho de uma demonstração de carinho e comprometimento com a missão. Chamava a razão sem esquecer a ternura das ninfas que ali estavam. Nunca ouvi nenhuma delas demonstrar qualquer sentimento por ele, que não fosse carinho e respeito.

Muitos dos meus primeiros escritos eu submetia a ele primeiramente. Mensagens que levei aos Templos em minhas jornadas com o Mário, cartas pessoais, e até mesmo algumas mais particulares. Confiei sempre em sua razão, equilíbrio, imparcialidade e sinceridade ao avaliar com atenção tudo o que lia.

Desejar paz aos que ficam chorando por ele e dizer que ele com certeza está em um bom lugar, é demasiadamente óbvio. Prefiro encerrar este texto como ele mesmo faria:

- Vocês deixem de frescura! Tratem de rezar e trabalhar para eu não ter que me incomodar por aqui.

E depois calmamente acrescentaria:

- Amo todos vocês! Eu vou estar bem! A razão é o equilíbrio perfeito entre o amor que desejamos e o amor que merecemos.

Kazagrande

7 Comentários

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  1. Também meu padrinho. Deixou saudades!

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  2. Mestre Albuquerque...
    Ele era mesmo desse jeito! Quando fui parar lá no vale, com meu marido e 8 filhos, todos pequenos, ele que cuidou de nós. Nunca deixou faltar nada e eu nem precisava pedir... "Rosângela (meu nome é Rosana, mas ele sempre me chamou assim), manda o Arthur aqui em casa buscar umas coisas!"
    E lá vinha o Arthur com a nossa mercearia, o gás, o pão, tanta coisa...
    Me lembro dele (todo "durão"...) se derreter todo com Maria Clara (filha do Tony e Alessandra), que fazia dele "gato e sapato...
    Éramos estranhos quando chegamos, mas nos já nos sentíamos fazendo parte da família quando precisamos partir!
    As lágrimas teimam em escorrer, mas não é de tristeza, é de saudade!
    Porque eu sei que ele está em um lugar muito bom e não duvido que onde ele estiver, não demore muito para estar organizando alguma coisa por lá, preocupado com o bem estar dos espíritos ao seu redor...

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  3. Mestre Albuquerque
    Tive o prazer e a honra de o conhecer na minha passagem pelo Vale.
    Tive igualmente o prazer de conhecer sua esposa, e com ela conviver de perto.
    Para todos vos um beijinho de saudade.

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  4. Eu e minha ninfa Tâmara moramos em Planaltina, no Vale no período de 1996 ao final de 1998, foi uma época boa de nossas vidas, tínhamos uma lojinha de variedades em frente a casa da ninfa sol Iurici Cândida, madrinha do saudoso Adj. Aluxã, Mestre Mário Kioshy, tivemos ali grandes amigos, me lembro ainda do Rodrigo jovem, morando próximo da casa do mestre Eurípedes, homem humilde que um dia eu procurei pedindo ajuda por recomendação de outro amigo o Mestre Nilo(Pagé)também ajanã, que me disse ser ele um excelente médium, aparelho de Pai Zé Pedro de Enoque, no que prontamente nos atendeu, sómente dizendo que por recomendação de Tia Neiva, ele sómente trabalhava com Ninfa Sol, assim foi feito e tivemos exito, me lembro também de um dia quando o mestre Mário me convidou juntamente com minha ninfa Tâmara, para realizarmos um trabalho especial na casa do já saudoso Mestre Albuquerque naquela semana ele tinha batido com sua camionete vindo de Planaltina, foi um trabalho muito bom e ao final fizemos um lanche e conversamos durante bastante tempo, hoje 13 anos depois, posso fechar meus olhos e me lembrar de tantos jaguares tão importantes que tivemos a oportunidade de desfrutar das suas presenças e compartilhar grandes lições de vida, Mestre Nilo(Pagé), Mestre Eurípedes, querido e saudoso Mestre Mário Kioshy, Adj. Arakem, Mestre Nestor, nosso Coordenador do Desenvolvimento e Executivo da nossa Doutrina, Mestre Antonio Carlos, Adj. Cairã, morava próximo do Sitio do Aluxã e sempre passava na nossa loja para comprar os pães que a minha ninfa fazia, ele adorava, enfim tantos irmãos que já se foram e que com certeza estão juntinho da Tia Neiva lá em algum lugar nos Planos Espirituais, trabalhando no Templo que já está montado nos aguardando a todos nós que realmente temos a Doutrina em nossos corações, assim sendo, só nos resta esperar o momento da nossa partida e quando lá chegarmos, matar essa saudade e esse vazio que esses irmãos deixaram, a nossa vida é só um pequeno lapso de tempo, efêmero porém de suma importancia para nossa individualidade, vamos aproveitar e aprender esses ensinamentos que estão sendo ministrados pelo nosso irmão Mestre Rodrigo Kazagrande através desse Blog que tem sido uma dádiva para muitos de nós, embora seja as custa da ausência desse querido irmão que está tão distante, lá na Bolívia, pedimos à Deus e ao querido Pai Seta Branca que o abençoe e ilum ine cada vez mais, abraços a este irmão querido e sua ninfa, Salve DEUS.
    Adjunto Ganeiro, Mestre Lionísio Carlos Coelho de Castro- Vila Velha-ES.

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  5. Mestre Albuquerque, uma pessoa de muito valor aos médiuns do Vale do Amanhecer.
    Ele será sempre um exemplo de companheirismo e dono de um legado doutrinário muito forte. Sua autoridade mesclada à uma simplicidade espiritualizada trouxe sempre a concódia, a tranquilidade para sua família.
    Mestre Albuquerque, que seu espírito possa estar em perfeita sintonia com um Mundo de Amor e Paz.

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  6. Renatinho adj Ipurano Vancares24 de julho de 2010 às 13:20

    Albuquerque...

    procurei de varias maneiras começar um comentario sobre o post, mas vi o quanto é dificil traduzir em palavras um sentimento que assim como ele não possui sinonimos.
    lembro-me que certa vez no balcão de uma loja que pertencia a minha familia,estavamos calculando o tamanha exato para formamos um painel na casa grande com varias fotos emolduradas dos primeiros mestres adjuntos, em dado momento uma pessoa que me acompanhava perguntou ao albuquerque se ele tinha muitas cartas da tia neiva e se poderia tambem fazer uma cópia dessas cartas, pois tambem ele queria fazer um acervo de TIA, e albuquerque naquele jeitão dele falou que não teria problema ele tirar cópia das cartas , mas que o acervo verdadeiro ele tinha que ter aqui ó, e apontava pra cabeça!!

    sei que sou um jaguar e tenho conhecimento dos caminhos que temos e vamos percorrer, mas é impossivel, como ser fisíco, não pensar que tivemos uma grande perda, que ficamos um pouco mais orfãos,será sempre dificil em dias de benção do pai, não lembrar das palestras do albuquerque as 17:00 horas na casa grande, lembrar dele explicando como Tia Neiva lapidou um coração bruto,colocando um militar para servir comida para hippies, ou quando Tia pedia para ele ajudar no acompanhamento e tratar bem os ``doidinhos´´ como ele mesmo falava de maneira carinhosa!
    Albuquerque do fundo do coração receba a minha melhor vibração de paz e gratidão pelos poucos momentos em que pude desfrutar de sua presença e sabedoria tudo de bom!!!

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  7. Boa tarde a Todos, Salve Deus, melhores esclarecimentos inpossiveis mestre, adorei as suas palavras, simples e objetivas, colocarei em pratica com certesa com muito amor no coração, e que nosso bom Deus, e nosso irmão Jesus Cristo, e nossos mentores, possam estar em nossas mentes e corações, hoje, agora, e sempre, Salve Deus.

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